terça-feira, 13 de março de 2012

Queda de Teixeira expõe diferença entre Globo e Record e repercute nas redes sociais

William Bonner, âncora do Jornal Nacional

Inimigas ferrenhas na disputa pelo topo da audiência na TV, Globo e Record demonstraram ontem comportamento completamente diferente ao abordarem a renúncia de Ricardo Teixeira no comando da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

A Globo, que durante toda a era do dirigente foi a principal parceira nas transmissões dos jogos da seleção e Campeonato Brasileiro na TV aberta, fez um texto positivo no Jornal Nacional.

Em vídeo de pouco mais de três minutos, a emissora carioca exalta o comando de Teixeira. Antes mesmo de ser completado o primeiro minuto, a matéria já credita parte das conquistas da seleção de 89 a 2012 ao dirigente.

“Foram 112 títulos em várias categorias do futebol”, diz o texto. “A primeira conquista foi logo em seu primeiro ano, a Copa América de 1989.”

Na sequência, o texto tenta associar ao ex-dirigente a imagem de um futebol nacional organizado e com clubes mais ricos.

“No comando da CBF, Ricardo Teixeira organizou o calendário nacional e instituiu a fórmula dos pontos corridos no futebol brasileiro. Foi uma medida benéfica para a economia dos clubes.”

Na contramão da afirmação, Teixeira sempre foi conhecido por ser um dos maiores opositores à atual fórmula de disputa do Campeonato Brasileiro, que passou a vigorar em 2003, 14 anos após assumir o comando da entidade.

A matéria do Jornal Nacional ainda lembra, de maneira sutil, que o dirigente “foi alvo de denúncias e sempre disse que as acusações eram falsas”. Mas cita o episódio da ISL. “A denuncia mais contundente foi de que teria recebido dinheiro irregular de uma empresa de marketing esportivo”, diz trecho, que depois é complementado “viu todos os processos serem arquivados pela Justiça”.

A última grande conquista de Teixeira, de acordo com a matéria, foi conseguir trazer a Copa do Mundo de 2014 para o Brasil. Esse direito foi obtido em 2007, quando então existia o sistema de rodízio continental da Fifa para os Mundiais. Aquela edição seria obrigatoriamente na América do Sul, e o Brasil foi candidato único, depois de rumores de candidaturas falidas de Colômbia e Venezuela.

“Sua última realização no futebol brasileiro não foi alcançada nos gramados. Em 2007, Ricardo Teixeira comandou a campana vitoriosa que fez a Fifa conceder ao Brasil o direito de organizar a Copa de 2014”, diz a matéria.

Já na Record, que no ano passado virou inimiga declarada do cartola após ver ruírem as chances de conseguir o direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, o tom foi oposto.

Foi difícil de esconder o tom alegre ao dar a notícia no Jornal da Record. A ironia não passou batida. “Cai Ricardo Teixeira, o chefão da CBF. Ao renunciar ele se disse injustiçado. O que o mundo da bola pergunta agora é se o futebol brasileiro vai mudar ou seguir o caminho dos últimos 23 anos”, falou a âncora Ana Paula Padrão.

A matéria de aproximadamente dois minutos enfatiza toda as acusações de corrupção e ainda ironiza a carta de despedida do dirigente. “Reclamou das críticas, denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro sofrida nos últimos anos”, fala o repórter, para depois cortar para a leitura do agora presidente da CBF, José Maria Marin, lendo o texto de Teixeira. “Nada maculará o que foi construído com sacrifício, renúncia e dor.”

Ainda mostra trecho dos comentários de Romário, um dos principais aliados da emissora e opositor de Teixeira. “Comemorou a saída do dirigente comparando com o fim de uma doença.”

As abordagens diferentes geraram reação dos internautas nas redes sociais.

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